Este blogue pretende ser um lugar de divulgação da poesia
guineense em português.
Hoje apresentamos alguns poemas de Domingas Samy, escritora mais conhecida pela sua escrita em prosa.
Hoje apresentamos alguns poemas de Domingas Samy, escritora mais conhecida pela sua escrita em prosa.
Desejada
Paz
Porque
colorir o mundo
de: agitação,
terror
sangue
fogo
dor e
padecimento da
humanidade?
Porquê?
— Todos nós amamos e sofremos
— porque não juntar
mãos brancas, negras e amarelas
para construir um mundo multicor e alegre
como vozes das crianças
de: agitação,
terror
sangue
fogo
dor e
padecimento da
humanidade?
Porquê?
— Todos nós amamos e sofremos
— porque não juntar
mãos brancas, negras e amarelas
para construir um mundo multicor e alegre
como vozes das crianças
Nós,
Testemunhas da cicatrização das feridas
dos corações heróis
— Queremos que o Mundo
Seja iluminado pelo fulgor dos olhos infantis
— Queremos viver
na alegria das crianças que nascem
Testemunhas da cicatrização das feridas
dos corações heróis
— Queremos que o Mundo
Seja iluminado pelo fulgor dos olhos infantis
— Queremos viver
na alegria das crianças que nascem
— Queremos viver
de uma maneira simples
fazendo as coisas mais naturais e belas
como a própria natureza,
Humanas,
—Isto é a Paz...
O direito de ser simples,
nascer,
respirar,
amar e
morrer.
de uma maneira simples
fazendo as coisas mais naturais e belas
como a própria natureza,
Humanas,
—Isto é a Paz...
O direito de ser simples,
nascer,
respirar,
amar e
morrer.
Hoje, como nunca
sonhamos como nunca
com a Paz
como o inocente sonha com a razão em fuga
sonhamos como nunca
com a Paz
como o inocente sonha com a razão em fuga
Hoje, como nunca
Desejamos como nunca
A Paz
como guerreiro no deserto deseja Água.
Desejamos como nunca
A Paz
como guerreiro no deserto deseja Água.
Filho de África
Tu ouviste chorar a África
e quiseste chorar;
porquê irmão?
Tu viste o mar sangrento
e quiseste atravessá-lo a nado,
porquê?
Tu viste a mata espinhosa
e quiseste atravessá-la,
porquê?
Tu viste arder os corações humanos
e quiseste queimar o teu,
porquê mano?
— Meu pequeno! — porque só através
do mar sangrento,
da ignição dos corações humanos,
da mata espinhosa
vi o futuro luminoso
da nossa querida Mãe.
e quiseste chorar;
porquê irmão?
Tu viste o mar sangrento
e quiseste atravessá-lo a nado,
porquê?
Tu viste a mata espinhosa
e quiseste atravessá-la,
porquê?
Tu viste arder os corações humanos
e quiseste queimar o teu,
porquê mano?
— Meu pequeno! — porque só através
do mar sangrento,
da ignição dos corações humanos,
da mata espinhosa
vi o futuro luminoso
da nossa querida Mãe.
Domingas Samy, Agosto de 1979
URSS, Varoneje
Recordação
demolida
Gostaria de guardar sempre comigo,
gostaria de guardar na minha mente
tua recordação branca
como a neve adormecida na floresta
Gostaria que ela ressuscitasse em cada Inverno
acariciando os meus olhos cobertos de luto.
Mas tu,
Meu Amor,
inocentemente borraste esta recordação
com as tuas palavras da cor da tinta de china
Demoliste esta recordação
com as tuas palavras duras como mármore
Queimaste esta recordação
com as tuas dolorosas e fogosas palavras.
Inocentemente demoliste esta recordação
com as tuas duras e verdadeiras palavras.
Domingas Samy, Agosto 1980
Antologia Poética da Guiné-Bissau
Porque choras mamã?
Porquê?
Porque choras mamã?
Porque entristeceram teus filhos?
Porque tudo escureceu?
Porque no jardim entristeceram as flores?
Porque estão mortos?
Porquê mamã?
Responde Mamã!
Porque choras mamã?
Porque entristeceram teus filhos?
Porque tudo escureceu?
Porque no jardim entristeceram as flores?
Porque estão mortos?
Porquê mamã?
Responde Mamã!
Porque me sinto esquisita hoje?
E porque choras Mamã?
Não chores mais!
— Responde!
Porque choras?
E porque choras Mamã?
Não chores mais!
— Responde!
Porque choras?
Num fio de voz
mas carinhosamente, respondeu:
— Querida minha!
Os Imperialistas mataram teu irmão mais velho.
mas carinhosamente, respondeu:
— Querida minha!
Os Imperialistas mataram teu irmão mais velho.
Tudo se escureceu
e no meio dessa escuridão
e silêncio,
soaram como que
vozes infantis:
— Não chore Mamã!
— Não chore!
— Cabral não morreu.
— Ele está sempre connosco:
hoje, amanhã, sempre
porque ele é luz
e guia do nosso Povo.
e no meio dessa escuridão
e silêncio,
soaram como que
vozes infantis:
— Não chore Mamã!
— Não chore!
— Cabral não morreu.
— Ele está sempre connosco:
hoje, amanhã, sempre
porque ele é luz
e guia do nosso Povo.
Domingas Samy, Janeiro de 1979
URSS, Varoneje
Arde o coração!
Sentada na margem
do Mar azul,
lágrimas nos olhos,
contemplava a água límpida
e sonhava alcançar
um mar transparente coberto de rosas.
Ao meu redor
reinava um silêncio de morte,
só se ouvia o barulho das ondas
Foi entre estas ondas
que tu apareceste
como que em sonho
Senti as tuas mãos matinais
limparem estas duras lágrimas
Tu me prometeste
o mar transparente coberto de rosas
e eu acreditei
Mas em vez disso
deste-me a floresta fogosa
E eis que cada minuto
juntamente com a floresta
queima o meu coração.
do Mar azul,
lágrimas nos olhos,
contemplava a água límpida
e sonhava alcançar
um mar transparente coberto de rosas.
Ao meu redor
reinava um silêncio de morte,
só se ouvia o barulho das ondas
Foi entre estas ondas
que tu apareceste
como que em sonho
Senti as tuas mãos matinais
limparem estas duras lágrimas
Tu me prometeste
o mar transparente coberto de rosas
e eu acreditei
Mas em vez disso
deste-me a floresta fogosa
E eis que cada minuto
juntamente com a floresta
queima o meu coração.
Domingas Samy, abril de 1979
URSS, Varoneje
A casa de todos nós
Todos nós.
Brancos, Negros
e Amarelos
Somos flores de
matizes variados no grande
Jardim,
Cujo ventre
Ávido de riqueza
Torna cegos os
nossos olhos e
Mata a nossa
consciência
Enquanto a
calamidade ecológica
Não conhece
Nem os ricos,
Nem os pobres,
Não sabe bater à
porta
Nem pedir licença
para entrar.
Salvemos o nosso
frágil Planeta
Salvemos a nossa
Casa,
Restituindo-lhe
O seu rosto
suave outrora acolhedor
Tal como o das
flores ao nascer do dia.
Salvemos o nosso
Berço
Em que se
refugiavam os espíritos desesperados.
Salvemos o
Futuro dos nossos filhos
E preservemos a
amenidade das nossas vidas.
Só a nossa
tomada de consciência
Pode acorrer ao
nosso ambiente
E salvá-lo do
pesadelo.
Só a nossa
atenção a todos os pontos do Planeta,
Como moscas em
torno das vacas,
Pode
restituir-lhe a sua beleza agressiva
E a sua pureza
de outros tempos.
Domingas Samy
in Tribune Libre, 1992 (tradução
reproduzida no manual escolar “Horizontes”, de Língua Portuguesa para a 9ª
Classe, num projeto de Cooperação entre República da Guiné-Bissau e a Fundação
Gulbenkian)
quadro do jovem pintor guineense
Kevin Lima
Nota biográfica:
Domingas Barbosa Mendes Samy, «Mingas», nasceu em Bula,
sector da legião de Cacheu, em 2 de Janeiro de 1955. Fez os seus estudos
primários em Gabú, região local, mais tarde tendo frequentado o Liceu Nacional
Honório Barreto, depois Kwame N’Krumah. Depois de concluir o liceu no ano
lectivo de 1975/76, beneficiou de uma bolsa de estudos para a URSS a fim de
efectuar os seus estudos universitários, que veio a concluir com a licenciatura
no ano de 1981, em Filologia Germânica.
Após o regresso ao país, trabalhou no Liceu Nacional Kwame
N’Krumah como professora da língua francesa e ao mesmo tempo presidente do
Conselho Técnico-Pedagógico. Actualmente é funcionária do secretariado do C. C.
do PAIGC, directora da Biblioteca Nacional do Partido.
Escreve em quatro línguas diferentes (português, francês,
russo e crioulo) e é considerada pioneira na prosa, mais precisamente no conto
(Couto e Embaló, 2010: 110). A sua poesia em português está representada apenas
com cinco poemas em “Antologia Poética da Guiné-Bissau”. Os seus primeiros
versos foram escritos e publicados em russo nas páginas do Jornal de Varóne
(cidade onde estudou), «Molodoi Kommunar» (jovem comunardo) e posteriormente na
revista «Vida Soviética» em 1982 e 1984.
Durante os seus estudos, «Mingas» participou frequentemente
em saraus de poesia. Em 1983, começou a participar nas conferências
internacionais dos escritores da África e da Ásia.
É também secretária da UNAE (União Nacional de Artistas e
Escritores da Guiné-Bissau) e membro fundador da «LEC» (Liga dos Escritores dos
«Cinco»).
Fontes:
http://triplov.com/guinea_bissau/mingas/poemas/index.htm
Couto, Hildo Honório do ; Embaló, Filomena. (2010).
“Língua, literatura e cultura na Guiné-Bissau, um país da CPLP”. PAPIA, revista
brasileira de estudos crioulos e similares [Em linha], nº 20. Brasília: Editora
Thesaurus. [Consult. mai. 2019]. Disponível em
http://abecs.net/ojs/index.php/papia/article/viewFile/341/362.