Este blogue pretende ser um lugar de divulgação da poesia
guineense em português.
Alguns poetas guineenses aparecem representados apenas em algumas antologias ou revistas. Nagib Said é um deles, com apenas seis poemas publicados. Destes textos transparecem o lirismo, o amor, a preocupação com o destino dos povos e um pouco da luta armada, inclusive a questão da unidade Cabo Verde-Guiné-Bissau sonhada por Amílcar Cabral (Couto e Embaló, 2010: 108).
Couto, Hildo Honório do ; Embaló, Filomena. (2010). “Língua, literatura e cultura na Guiné-Bissau, um país da CPLP”. PAPIA, revista brasileira de estudos crioulos e similares [Em linha], nº 20. Brasília: Editora Thesaurus. [Consult. mai. 2019]. Disponível em http://abecs.net/ojs/index.php/papia/article/viewFile/341/362.
- Há mais mundo! - Manual de Língua Portuguesa da 8ª Classe da República da Guiné-Bissau, numa cooperação entre a República da Guiné-Bissau e a Fundação Calouste Gulbenkian.
Alguns poetas guineenses aparecem representados apenas em algumas antologias ou revistas. Nagib Said é um deles, com apenas seis poemas publicados. Destes textos transparecem o lirismo, o amor, a preocupação com o destino dos povos e um pouco da luta armada, inclusive a questão da unidade Cabo Verde-Guiné-Bissau sonhada por Amílcar Cabral (Couto e Embaló, 2010: 108).
Poema I
Dizem-me que não há poesia na minha terra,
Mas eu não me submeto!
A poesia nasce e faz-se.
É só sentir, querer,
Pegar e construir horas.
Dizem-me que não há poemas…
Nós somos poetas.
Se ser poeta é cair, levantar-se
E de novo caminhar,
Nós somos poetas.
Se ser poeta é ser-se livre,
Nós somos livres e somos poetas.
Se a poesia é sol ao alvorecer,
Nós somos poesia.
Se a poesia é rio, estrela, montanhas
Em tempestades, natureza ou céus
Despedaçados.
Nós somos poesia.
E,
Se somos poesia…
São para vós os poemas que eu canto,
Madrugadas do meu país,
Poemas de dor e de riso em gargalhadas,
Poemas de força, poemas de mim.
Nagib Said, Mantenhas para quem luta
Poema
II
De um ai
Que é uma dor.
De um ai
Que é um lamento.
De um ai
Que é um suspiro,
Um prazer…
Nasce a semente
Que continuará a nossa geração,
Mulher.
E...
Os gritos, agudos
Que eu ofereço
Cansado,
Ao mundo ideal
Que meus sonhos
Cantam,
São gemidos de dor
Que eu digo
Cantando
E tu
Mulher,
Minha doce poetisa
Tão bem compreendes.
Nagib Said, Mantenhas
para quem luta
Poema III
Eram dias a fio,
Noites perdidas em
passos escondidos,
Nas dobras do vento,
Nas vagas do sonho
Sonhos de olhos abertos
E sentidos despertos
E no lento percorrer
do tempo-espaço
Do meu cansaço,
No célere escoar do
ritmo reencontrado
Da minha vivência,
Nas tropelias várias
Dos desencontros do
meu sentir,
Encontrei o teu
olhar,
Sorriso bailando em
ritmo de mar,
Tristeza escondida em
trejeito irónico.
São olhos de fogo.
Labareda lenta em sua
ternura,
Escaldante em sua
força.
Para além do olhar
encontrei tua boca
De sorriso tão
quente, tão terno
Quanto o olhar
Vagabundo em sua
constância
De tentar encontrar a
verdade das coisas.
Boca e olhos de
sorriso vivo,
De fogo contido em
calma aprendida,
Olhar do
tempo-paragem para o meu sonhar.
E nas mãos erguidas
cheias de vento
Encontrei o gesto,
Aflorando em contacto
doce,
Ondulante em sua
expressão.
Mas é o olhar,
Penetrante e fundo
que marcou,
Como brasas,
O bailar dos nossos
corpos,
E, como pássaro
voando,
Asas abertas no
espaço do nosso olhar,
A palavra foi tomando
forma de encontro,
De alegria calma
Como flor orvalhada
No amanhecer de nossa
vivência.
Nagib Said, Antologia Poética da Guiné-Bissau
Poema
- A leveza do teu andar
Quando te mexes
- A profundidade dos teus olhos
Quando me fixas
- O murmúrio da tua voz
Quando sussurras
- A rebeldia faminta do teu corpo
Quando me tocas
OBRIGAM-ME A CAMINHAR!
E seguirei caminhando sereno,
Companheira de luta,
Porque existe,
Na dimensão em que enquadro
A minha geração,
O sentido da pureza,
Da doçura
E da fraternidade.
Nagib Said, Momentos
Primeiros de Construção.
Nota biográfica:
Nagib Farid Said Jauad nasceu em Bolama a 26 de
Fevereiro de 1949. Estudou em Bissau, tendo depois continuado a sua formação em
Portugal e posteriormente em França. Jornalista e jurista, foi redactor da
Agência Noticiosa e da Radiodifusão Nacional antes de ingressar no ministério
dos Negócios Estrangeiros. A sua poesia consta nos livros "Mantenhas para
quem luta", de 1977, com cinco poemas; "Antologia Poética da
Guiné-Bissau", de 1990, com dois poemas e em "Momentos Primeiros da
construção - antologia dos jovens poetas" (1978), com dois poemas (Couto e Embaló, 2010: 108).
Fontes:
http://www.triplov.com/guinea_bissau/poetas/nagib_jauad/index.htm
Couto, Hildo Honório do ; Embaló, Filomena. (2010). “Língua, literatura e cultura na Guiné-Bissau, um país da CPLP”. PAPIA, revista brasileira de estudos crioulos e similares [Em linha], nº 20. Brasília: Editora Thesaurus. [Consult. mai. 2019]. Disponível em http://abecs.net/ojs/index.php/papia/article/viewFile/341/362.
- Há mais mundo! - Manual de Língua Portuguesa da 8ª Classe da República da Guiné-Bissau, numa cooperação entre a República da Guiné-Bissau e a Fundação Calouste Gulbenkian.