Este blogue pretende ser um lugar de divulgação da poesia
guineense em português.
Hoje apresentamos três poemas que constituem homenagens a Amílcar Cabral: “Em género de homenagem à memória do camarada Amílcar Cabral”, de Nagib Said; “Mantenhas”, de António Soares Lopes Jr. (Tony Tcheca) e, ainda, de Agnelo Regalla.
Amílcar Cabral num selo da Alemanha Oriental
Camarada Amílcar
No chão vermelho
Hoje apresentamos três poemas que constituem homenagens a Amílcar Cabral: “Em género de homenagem à memória do camarada Amílcar Cabral”, de Nagib Said; “Mantenhas”, de António Soares Lopes Jr. (Tony Tcheca) e, ainda, de Agnelo Regalla.
Em género de homenagem à memória do camarada
Amílcar Cabral
Na noite colonial
Sou apenas a máquina
Que tritura o teu nome
Num ritmo dolente.
Sou a sombra apagada
Que busca uma luz para se refugiar.
Sou o pintor fanático
Que será sem tintas e sente a inspiração nascer
Sou alcoólico louco
Que não tem vinho mas tem necessidade de beber
E olha, lembras-te…
Sou como o velhinho
Que dormita cansado de ainda viver.
Sou o remorso oco
Dum edifício louco
Sou o doido incompreendido
Que foge e procura a solidão para renascer.
Sou o esfomeado
Que grita mais e mais até ficar rouco
E exausto chorar:
As lágrimas caem
O sorriso apaga-se
O eco vai-se
Perde-se contigo
Na imensidão opaca
Que te tragou.
E a máquina
Apática
Insensível e feia
Continua sozinha
Num ritmo dolente
A triturar teu nome
Pela noite adiante.
Mas nós, irmão
Carne duma mesma carne africana,
Sangue dum mesmo sangue,
Somos
O Eco triste da voz materna
Que chora calada
Até que cansada
Se vai prostrar orando na angústia do amanhã,
As mágoas tristes do nosso discurso, sem nada dizer.
Eu sinto, sinto como tu sentiste a rebeldia faminta do meu
corpo
Convulsionando-se contra as amarras de aço,
Que me tiram os movimentos,
E me recalcam o orgulho são
Desta divina vontade de criar.
E ponho-me de joelhos, beijo o aço, beijo a poesia
E adoro a minha loucura.
E juro-te, farei como tu fizeste.
Darei o meu sangue palpitante por esta terra bem amada,
E mesmo que o faça com um fio de lágrimas
A beijar-me o rosto menino,
Quero que saibas
No frio da tua tumba,
Que o faço com orgulho e esperança
De que os nossos pais repousem em paz
E os nossos filhos nasçam libertos
Por uma Guiné e Cabo Verde voltados para o progresso.
NAGIB SAID, Mantenhas para
quem luta!
In http://www.odemocratagb.com/?p=380
Mantenhas
Mantenhas de luta tenho!…
Mantenhas, para quem luta!…
E não só…
Mantenhas…são mantenhas
Tenhas ou não participado…
Mantenhas trago para ti
Mantenhas de quem o povo serviu
Mantenhas de quem, sendo simples
Grandemente o povo serviu
Mantenhas daquele que sucumbindo
Com o próprio sangue o inimigo acertou
(A luta é assim, exige Sacrifícios)
Por isso mantenhas…
Mantenhas para os que merecerem
O merecimento de Pindjiguiti
O merecimento de Como
O merecimento de Cassaká
O merecimento de Guiledje
O merecimento de Cabral
O merecimento da Luta
O merecimento das mantenhas
A mantenha Combatente!!!
A mantenha para aqueles
Que engajados continuam
Mantenhas para que não mais haja
Botas estrangeiras espezinhando o nosso sentimento
A nossa cultura …
A nossa razão …
Por isso mantenhas … Mantenho
Decididamente, mantenhas!!!
Mantenha de firmeza
Mantenhas militantes
Mantenhas na certeza
De que nada será, como ontem
Jamais as nossas crianças
Matarão a sede
Com as lágrimas da fome.
Por isso mantenhas, mantenho nas mantenhas.
ANTÓNIO SOARES LOPES JR (Tony Tcheca), Mantenhas para quem luta! A nova poesia da
Guiné-Bissau – 1993.
In http://www.odemocratagb.com/?p=380
Amílcar Cabral num selo da Alemanha Oriental
Camarada Amílcar
No chão vermelho
Do teu sangue,
Camarada,
caem como
gotas de orvalho
As lágrimas
sinceras de dedicação.
As flores da
nossa luta
Que tu com
carinho plantaste
Estão a
desabrochar
Em gargalhadas
infantis.
E descansa que
não secarão.
Serão sempre regadas
Com o nosso
suor e sangue,
Serão sempre
alimentadas
Pela força na
nossa vontade.
E serão,
camarada Amílcar,
Serão
livres...livres…
Livres como o
sol do nosso hino,
Livres como o
vento que desfralda a nossa bandeira,
Livres, como a
liberdade com que sonhaste.
É
assim…
Uns chegam ao
fim
Mas outros
ficam pelo caminho
Não por
desfalecimento,
Mas pelo seu
valor e coragem.
E de entre
todos, os mais felizes
Serão os que
conseguirem plantar
As flores que
deixaste
No canteiro
livre
Da Guiné e de
Cabo Verde!
Agnelo Regalla, Mantenhas
para quem luta! A nova poesia da Guiné-Bissau, 1993
Fontes:
http://www.odemocratagb.com/?p=380